Bolsonaro embute “reforma trabalhista” em medida para geração de empregos a jovens
MP do Trabalho Verde Amarelo anunciada pelo presidente está sendo usada para ampliar reforma promovida por Temer
O governo aproveitou a MP e os dois projetos de lei do pacote de emprego para fazer alterações na atual legislação trabalhista. Entre as mudanças estão um novo sistema de homologação de acordos trabalhistas – permitindo acerto extrajudicial entre patrões e empregados –, reorganização do sistema de recursos e de fiscalização e permissão para que todos sejam convocados para trabalhar aos domingos e feriados, item incluído sem sucesso na MP da Liberdade Econômica. A multa de 10% sobre o FGTS paga pelas empresas ao governo nas demissões sem justa causa foi extinta. O secretário especial adjunto de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, afirma que o programa representa “um bom ajuste trabalhista”. Centrais sindicais organizam atos contra o programa de emprego e o pacote que muda a gestão das contas do governo.
O governo aproveitou o pacote de emprego Verde Amarelo para fazer novas alterações nas regras trabalhistas. O programa, enviado por meio de medida provisória e dois projetos de lei, já está sendo apontado no Congresso como uma segunda fase da reforma trabalhista, que foi aprovada em 2017 pelos senadores e deputados durante o governo Michel Temer.
Na época, o relator da reforma era o atual secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, que agora comandou a elaboração do programa de estímulo ao emprego do governo Jair Bolsonaro.
Em entrevista ao Estado, o secretário especial adjunto de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, afirma que o programa representa um “bom ajuste trabalhista”, com o intuito de desburocratizar, desregulamentar para melhorar o ambiente de negócios. Ele prefere, no entanto, não chamar de nova reforma, mas de “aprimoramentos” na legislação, especialmente da Consolidação das Leis Trabalhistas (mais informações nesta página).
O programa Verde Amarelo foi anunciado na segunda-feira pelo governo para incentivar a contratação do primeiro emprego de pessoas entre 18 e 29 anos com remuneração de até 1,5 salário mínimo (R$ 1.497). As empresas terão redução de até 34% nos impostos que pagam sobre a folha. Para financiar o programa, o governo propôs taxar o seguro-desemprego.
No pacote, o governo incluiu alterações nas regras trabalhistas, como a que cria uma nova sistemática de homologação do acordo trabalhista, permitindo o acerto extrajudicial, entre patrões e empregados. Ele poderá ser individual ou coletivo e valer para o encerramento dos contratos. Poderá se chegar a um acordo entre as partes e levar ao juiz para homologação.
Há ainda mudança no sistema de apresentação de recursos e de fiscalização do País, além de reduzir o número de multas e flexibilizar a sua aplicação. A primeira visita do fiscal ao estabelecimento não gerará multa, mas advertência, oferecendo a possibilidade de regularização. A multa só será aplicada em caso de reincidência.
Trabalho aos domingos. O pacote também retorna ao tema dos trabalhos aos domingos, que foi incluído sem sucesso na MP da Liberdade Econômica. O texto permite que todos os trabalhadores sejam convocados para trabalhar aos domingos e feriados. Leis que vetavam convocação de 70 categorias, como professores e funcionários de call centers, foram revogadas. Para comércio e serviços, está garantida folga em um domingo a cada quatro fins de semana. Para a indústria, porém, está garantida a folga apenas em um domingo a cada sete.
A MP prevê ainda o trabalho aos sábados nos bancos. O texto estabelece que a jornada diária de seis horas vale apenas para os bancários que trabalham nos caixas em atendimento ao público. Para os demais trabalhadores das instituições financeiras, a jornada é de oito horas.
“As pessoas que consigam trabalhar aos domingos são obrigadas a submeter um acordo com o sindicato da categoria. Estamos possibilitando que isso seja menos regulamentado”, afirmou Bianco.
O governo aproveitou também para retirar a exigência de registro profissional para jornalistas, publicitários, radialistas, químicos, arquivistas e até guardador e lavador de veículos.
A MP ainda acaba com o adicional de 10% da multa rescisória sobre o FGTS pago pelas empresas em caso de demissão sem justa causa. O adicional foi criado no governo Fernando Henrique Cardoso com a finalidade de bancar o rombo deixado pelos planos econômicos Verão (1989) e Collor I (1990).
Incomodados com a taxação do seguro-desemprego, senadores já articulam alterar a fonte de financiamento do programa. Em vez de taxar o seguro-desemprego, uma das possibilidades citadas pelo líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), é reduzir os recursos do Sistema S. “Para abrir o emprego para o jovem, eles estão tributando o desempregado. É muito contraditório. Nós vamos ter de ajustar”, criticou o líder do MDB, Eduardo Braga, que também quer incluir no programa pessoas com mais de 55 anos.
Veja as principais alterações:
AUXÍLIO DOENÇA
A medida reduz o valor do benefício pago aos trabalhadores que sofram sequelas permanentes decorrentes de acidentes relacionados à atividade exercida. O benefício, que era de 50% da média dos maiores salários de contribuição, poderá cair para até 30% da média de todos os salários, incluindo os menores.
REGISTRO PROFISSIONAL
A MP revoga exigências de registros específicos para a atuação em diversas profissões, como jornalista, publicitário, atuário e corretor de seguros. O texto também acaba com a obrigatoriedade de diploma para o exercício algumas atividades.
DOMINGOS
O texto permite que todos os trabalhadores sejam convocados para trabalhar aos domingos e feriados. Leis que vetavam a convocação de 70 categorias, como professores e funcionários de call centers, foram revogadas. Para comércio e serviços está garantida folga em um domingo a cada quatro fins de semana. Para a indústria está garantida a folga em um domingo a cada sete.
BANCÁRIOS
A medida acaba com a proibição de trabalho aos sábados nos bancos. Além disso, deixa claro que a jornada de seis horas vale apenas para os bancários que trabalham nos caixas em atendimento ao público. Para os demais trabalhadores, a jornada ordinária é de oito horas.
FGTS
Acaba com o adicional de 10% da multa rescisória sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) pago pelas empresas em caso de de- missão sem justa causa.
ALIMENTAÇÃO
O fornecimento de alimentação, seja in natura ou por meio de tíquetes, vales ou cupons, não tem natureza salarial e, portanto, não é tributável e nem pode ser contabilizada para efeito da contribuição previdenciária.
GORJETAS
As gorjetas recebidas pelos trabalhadores serão contabilizadas como remuneração do empregado e não poderão ter parte retida pelo empregador. Os valores recebidos a título de gorjeta devem constar das notas fiscais emitidas pe- los estabelecimentos e devem ser anotados na carteira de trabalho dos empregados.
ACORDOS
Será permitido ao trabalhador e patrão fechar um acordo extrajudicial, que será homologado por um juiz.
Centrais Sindicais falam em ‘maldades’ e organizam protestos
Alvos são pacote que muda gestão das contas do governo federal e programa de emprego; São Paulo teve ato hoje dia 13/11/19
Oito centrais sindicais, entre elas CUT, Força Sindical e UGT, realizam na manhã de hoje protesto em frente ao Teatro Municipal, na região central de São Paulo, contra o desemprego, o pacote econômico do governo lançado na semana passada e o programa Verde Amarelo, que tem como lema incentivar a contratação de jovens – mas que inclui medidas que estão sendo vistas como uma nova reforma trabalhista. Entre outros pontos, o programa propõe taxar trabalhadores que estão no seguro-desemprego.
“O programa deve gerar empregos, sim, mas empregos que não vão sustentar o crescimento do País, além de retirarem vários direitos dos trabalhadores”, disse João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical. Para ele, o País precisa de políticas claras para as indústrias e para a infraestrutura para atrair investimentos.
Ele cita como “contradição” do governo Bolsonaro propor a abertura dos bancos aos sábados, já que a própria reforma trabalhista estabeleceu a validade do negociado sobre o legislado. “Os bancários acabaram de fazer acordo coletivo com os bancos estabelecendo jornada de 36 horas semanais e agora querem que as agências funcionem aos sábados.”
O ato de hoje, previsto para começar às 9h, vai reunir também as centrais CTB, Nova Central, CSB, Conlutas e Intersindical. “É o primeiro de uma série de protestos que vamos fazer em várias capitais”, afirmou Juruna. “É um ato unitário contra o pacote de maldades que prejudica a classe trabalhadora e os mais pobres.”
O pacote levado ao Senado na semana passada, composto por três PECs e que muda a gestão do gasto público no País, também é alvo do protesto. Na visão das centrais, as medidas podem levar a um “arrocho” nos investimentos em Saúde e Educação e “agravar a precarização dos serviços públicos”.
Fonte: Agência Estado